O paradoxo da privacidade diz-nos que quanto mais conscientes estamos dos riscos existentes, maior é a propensão em adotarmos comportamentos desajustados.
Na verdade, a tomada de decisão menos correta, mas consciente, é muitas vezes associada a um conhecimento elevado sobre determinada matéria. Segundo inúmeros estudos, tal conhecimento adquirido potencia a leviandade dos ditos comportamentos e consequentemente a respetiva propensão para a adoção de práticas inadequadas.
Mas como poderemos nós, em plena “Guerra COVID-19”, encarar esta dicotomia quando adicionamos à fórmula a preocupação com a saúde pública? Será que este paradoxo ganha um novo eixo? A tomada de consciência relativamente à adoção de comportamentos de risco, o conhecimento sobre os mesmos e a preocupação com a saúde pública não são mais do que o reflexo de uma necessidade premente, a aposta urgente num dos mais importantes valores, a ética.
Comemoram-se hoje dois anos de Regulamento Geral de Proteção de Dados, e muita coisa mudou.
Como poderemos, pois, olhar para a privacidade dos dados pessoais e fazê-los coexistir com as preocupações relacionadas com a saúde pública? Antes demais, é importante percebermos que a privacidade dos nossos dados pessoais deve definitivamente coabitar de forma harmoniosa com as preocupações relacionadas com a saúde publica, independentemente da dimensão da amostra e do contexto, estejamos nós a falar da saúde nas nossas casas, escolas ou cidades.
A discussão não deve, pois, ser reflexo de uma clivagem entre duas fações que, perante uma bifurcação, escolhem percorrer caminhos distintos, mas sim numa parceria que em determinado momento opta por uma tomada de decisão conjunta e consciente. Tal exercício de valores só é possível por intermédio da ética, sem ela não será possível destrinçar os limites necessários, que possam garantir a sobrevivência e a exigível autoridade de um regulamento cuja essência tem por base a preservação dos direitos e liberdades dos nossos dados pessoais.
Devemos, pois, comemorar este aniversário com a consciência da responsabilidade individual e social que a data acarreta.