Em janeiro de 1983, Steve Jobs transforma a arena dos Interface com o Utilizador (UI) para os Computadores Pessoais, ao lançar o Interface Gráfico com o Utilizador (GUI) baseado em Windows, Ícones, Menus e Apontadores (WIMP).

Este conceito vinha a ser desenvolvido pela Xerox desde a década de 60, mas com pouco impacto no mercado.

Antes dessa data, a norma eram UI extremamente rudimentares, tendo começado com cartões perfurados, desenvolvidos pela Hollerith’s Tabulating Machine Company (que mais tarde se transformou na IBM), em 1890, para máquinas de tabulação.

A indústria de computação dependeu fortemente destes cartões, desde os anos 50 até aos anos 60, continuando os mesmos a ser utilizados durante os anos 70.

Na década de 70, os teclados e o armazenamento magnético surgiram como ferramentas comuns na indústria, juntamente com os interfaces de texto, nomeadamente os interfaces de linha de comando (CLI) que eram amplamente utilizados em sistemas como o UNIX.

Em 1983, o Apple Lisa, que não teve muito sucesso comercial, introduziu um padrão GUI no mercado, que Steve Jobs reaproveitou para o Macintosh, em 1984, com o grande sucesso comercial que todos conhecemos.

Esse GUI permaneceu como o padrão de facto, praticamente inalterado até hoje. Houve algumas melhorias aqui e acolá, mas a base WIMP GUI ainda existe até hoje, demonstrando que é uma das melhores maneiras de interagir com dispositivos digitais.

A popularização da GUI com o Windows 95

Com o Windows 95, que a Microsoft lançou em agosto de 1995 (12 anos após o lançamento do Apple Lisa, o mundo era lento naquela época), Bill Gates teve o mérito de tornar a GUI WIMP, que conhecemos hoje, acessível às massas. Desde que o Windows 95 foi lançado, quase todo o mundo utiliza a mesma filosofia GUI nos seus Computadores Pessoais.

Até mesmo no caso dos telemóveis foi desenvolvida uma versão simplificada do WIMP GUI, onde o utilizador usa o dedo (em vez do rato) num ecrã de pequeno tamanho e sensível ao toque.

Será que o standard dos Interfaces com o Utilizador estão à beira de uma disrupção?

Esqueça o GUI, as aplicações conversacionais são o futuro

I’m sorry Dave, I’m afraid I can’t do that” é a famosa frase do incrível filme de ficção científica “2001: Uma Odisseia no Espaço”, do diretor Stanley Kubrick e do escritor Arthur C. Clarke, que foi um dos melhores futuristas de todos os tempos (ver Arthur C. Clarke prevendo o futuro – BBC Archive de 1964).

Esta é uma cena em que Dave, um astronauta que se encontra no exterior da nave espacial, diz ao Hal 9000, a Inteligência Artificial que administra a nave, para abrir as portas do compartimento dos pods (pod – pequena nave para operar no exterior da nave principal). O Hal 9000, que nesse momento se está a revoltar contra os humanos, diz que não abrirá as portas do compartimento dos pods.

A visão de Arthur C. Clarke sobre as aplicações de inteligência artificial

Em 1968, quando os computadores eram muito rudimentares, de grande volume e com Interfaces de Utilizador horríveis, Arthur C. Clarke imaginou um futuro onde poderíamos falar com um agente de Inteligência Artificial. Esta foi a premissa do seu romance “2001: Uma Odisseia no Espaço”. Não é absolutamente notável?

Se Arthur C. Clarke pudesse ver a apresentação do GPT-4o pela OpenAI a 13 de maio de 2024, o que diria? Imagino que ele afirmaria que vieram 23 anos atrasados, enquanto esboçaria um subtil sorriso gracioso.

Claro, levou mais 23 anos do que Arthur C. Clarke esperava, com tímidas tentativas feitas pela Siri, Google Assistant, Alexa e outras aplicações/dispositivos similares. Com a ascensão dos LLMs (que explodiu numa curva exponencial desde que o ChatGPT foi lançado em novembro de 2022), podemos facilmente pensar que a visão de Arthur C. Clarke será finalmente alcançável.

E sim, esta tecnologia vai mudar profundamente a forma como interagimos com todo o tipo de aplicações. Uma interface conversacional será essencial para a maioria das aplicações, no futuro.

As aplicações conversacionais e a produtividade

 

Imagine que quer gravar a sua folha de horas e apenas diz “Ei Hal, regista as horas desta semana no projeto do Centro de Excelência e submete-a, por favor”. E que o Hal respondia: “Vou tratar disso imediatamente, Paulo. Vou registar 40 horas no projeto do Centro de Excelência e submetê-lo à tua chefia”. Esperemos que nunca venha a responder “Lamento Paulo, receio que não o possa fazer”.

Alguns dispositivos disruptivos, com interface conversacional já foram propostos no mercado, por empresas inovadoras, como o Rabbit R1 AI, que tem uma tela pequena e dois botões: um para falar e outro para deslizar o ecrã.

O futuro pode não ser tão extremo como o do Rabbit R1 AI. O mais provável é que venhamos a utilizar sistemas híbridos que combinam um Interface Conversacional com um WIMP GUI, dependendo da tarefa em questão. O WIMP GUI também poderá vir a ser substituído por dispositivos de realidade aumentada e/ou virtual, mas ainda tenho algumas dúvidas sobre esse possível futuro.

Mas a disrupção não ocorrerá apenas ao nível do Interface com o Utilizador. Também podemos adivinhar que possam vir a haver mudanças nos Interfaces Computacionais, como é fácil imaginar a partir deste vídeo onde a OpenAI coloca dois agentes de IA em diálogo. As possibilidades são infinitas…

Repense a sua abordagem de UX

Temos a tecnologia e ela está acessível para todos. Precisamos de mudar a nossa forma de pensar e experimentar novas formas de interagir com os sistemas que criamos. Precisamos de preparar os nossos designers para o Design Conversacional, de modo a ficarem aptos a projetar os sistemas do futuro.

A experiência conversacional é crucial para a produtividade (falamos mais rápido do que escrevemos) e em breve haverá uma procura destes interfaces, por parte de utilizadores e clientes.

Na Axians temos o dever de nos juntar a mais esta transformação. Temos uma visão sobre o tema e estamos a fazer progressos na direção certa.

Aplicações conversacionais, aqui vamos!